Seja Bem Vindo(a)

Seja Bem Vindo(a)

Nunca é tarde demais


Neste blog encontrará matéria relacionada a fenômenos corriqueiros e paranormais, alienígenas, filmes, mapa estelar, músicas, religião, livros, palestras, astrologia, astronomia, ciência e espiritualidade.

Agradeço as pessoas que dê várias partes do planeta visitam meu blog: Brasil - Estados Unidos - Rússia – Bielorrússia - Croácia - Letônia - República Tcheca - Itália - Portugal - Alemanha – Suíça - Áustria - Suécia - Noruega - França - Luxemburgo - Irlanda - Bélgica - Grécia - Dinamarca - Ilhas Faroe - Espanha - México - Reino Unido - Holanda - Nova Zelândia - Austrália - Canadá - Ucrânia - Moldávia - Sérvia - Albânia - Hungria – Turquia - Índia - Romênia - Polônia - Japão – China - Coreia do Sul - Vietnã - Hong Kong - Indonésia - Tailândia - Haiti - Malásia - Filipinas - Argentina - Peru - Chile - Bolívia - Guiana Francesa - Paraguai - Venezuela - Colômbia - Nicarágua - Egito - Emirados Árabe Unidos - Angola - Moçambique - Cabo Verde - Quênia - Argélia.




Aqui poderá fazer sua numerologia gratuita, saberá sobre previsões para o planeta, descobrirá como manter seu computador livre de vírus, poderá calcular distância entre cidades brasileiras, testar a velocidade de conexão, além de aguçar o bom humor com algumas piadas.




Também aprenderá como criar e manter um campo magnético que conduz a saúde física, mental e espiritual.




Agradeço sua visita, deixe seu recado. Abraços, Oswaldo.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Livro Nosso Último Natal - livro nosso último natal - livro nosso ultimo natal



Aqui encontrará aventura, suspense, ficção, realidade, drama, trama, intriga, amor e ódio.

Uma estória que se desenrola em três épocas distintas, onde a vida modela as características dos personagens.

As chamas da vida transformam pedras brutas em finos diamantes, e o destino ultrapassa os limites da imaginação.

Leia e Reflita.

            




Pertence a Benedito Oswaldo Vittoretti





Através deste livro espero proporcionar horas agradáveis e possíveis reflexões.







Que Deus ilumine e cubra de bênção a todos os seus filhos.






Jacareí, 04 de dezembro de 2004








Não leia O Teatro Da Vida, vá direto ao conto do 
livro: A DESPEDIDA








O  TEATRO  DA  VIDA

A vida é magia que nos faz confundir sonho com realidade. Transforma espírito em atores.
Ela é um imenso teatro, onde representamos o papel que nos cabe de forma tão intensa, que acabamos por transformarmo-nos no personagem que no momento representamos.
Ao término da peça, os atores já transformados no personagem que representavam, assumem a personalidade e características que viveram durante o ato.
Atuamos tão intensamente sobre o palco da vida, que muitas vezes o espetáculo termina e não percebemos que a cortina fechou, que tudo se encerrou.
Muita são as vezes que damos tanto valor a uma cena do espetáculo, e não percebemos que é apenas uma cena, é apenas uma parte, apenas um ato dentre muitos que já representamos, e muitos que ainda vamos representar.
Muitas são as vezes que nos afinizamos e nos amarramos por demasiado tempo a um personagem que nem sempre nos completa, nem sempre nos traz satisfação, nem sempre nos faz bem.
Essas são as vezes que nos mostramos atores teimosos, adiamos a representação de outro personagem, talvez mais interessante ao nosso ego, adiamos a representação de um personagem que possa nos dar alegria ao representá-lo.
Somos atores do teatro  que nos transforma, vivemos intensamente as características e a personalidade do personagem que no espetáculo atual representamos.      
Vida, o grande teatro de Deus, teatro que faz com que atores vivam a vida do personagem: agora você vai ser o pai, agora será o genro, agora o irmão, o tio, o sobrinho, o trabalhador, o presidente.
Deus, o diretor;  nós os grandes pequenos artistas.
Dentro desse teatro vivemos comédias, dramas, tramas, suspenses, nos emocionamos, ficamos tristes, esperançosos, alegres, decepcionados, compassivos, raivosos, e acabamos aprendendo ou pelo menos modificando nosso interior.
Aprendemos com a vida do personagem que hoje representamos e com o desenrolar da “estória”.
Digamos que não estamos vivendo uma  história e sim uma estória.       
Esse é um teatro tão forte que muitas vezes chegamos a pensar que realmente somos juízes, professores, garis, operários, médicos, diplomatas, agricultores, chegamos a pensar que somos covardes, que somos fracos ou fortes demais. Só não percebemos que somos alunos.
Muitas vezes alguns atores chegam a pensar que não são nada, pois estão representando o nada. Esse nada é o nada para a sociedade, nada para a família, nada para o sistema implantado; mas as pessoas e nem mesmo ele percebe que se tratar de um teatro, no qual somos todos atores representando um papel que logo se acaba.
Talvez na próxima representação, na próxima peça teatral, os atores possam trocar entre si os papéis, os personagens que outrora representavam.
Você que hoje é ator, fique atento para não se confundir entre sua realidade e a realidade do personagem que hoje representa.
Nunca pense que é grande demais, ou tão pouco sinta que é pequeno demais, apenas perceba que você é parte de quem cuida de você, você é parte de Deus.
Pensando que Ele o criou, então você é criatura dele.
Pensando que Ele cuida de você, então Ele é seu Pai, você é filho Dele e sempre será, eternamente será.
Pela força das circunstâncias, equivocadamente durante a peça, pensara que é filho de João ou de José, pensara  que é pai ou mãe deste ou daquele, mas não se esqueça que logo o espetáculo encerra e a realidade o cobrirá com sua verdade.
Somos todos atores, somos todos iguais, o único diferente é Ele; somos os artistas da vida, Ele, o diretor.
Devemos representar nosso papel da melhor maneira possível e perceber se ainda estamos aprendendo, pois aquele que sente que tudo sabe, que tudo aprendeu que só tem a ensinar, infelizmente está simplesmente no meio do palco e não consegue assimilar mais nada. Sossegou-se com o personagem que hoje representa, e não está pronto para receber o script do próximo personagem que virá.












A mente guarda segredos que superam até mesmo os limites da imaginação.










ÍNDICE




A Despedida
14
A Tragédia
17
A Morte
19
A Surpresa
22
Os Habitantes da Ilha
26
Uma Nova Vida
29
A Tentativa
32
Mudanças na Família
34
Visitas
36
Novos Rumos
38
O Impacto
39
O Descanso
41
O Cliente
42
Na Fazenda
46
O Roubo
50
O Fim de Emílio
54
O Domínio
59
A Trama
64
Conclusões
68
O Reencontro
71
Um Pedido no Natal
77










A DESPEDIDA


Estávamos a cinco dias do natal e a quatro do aniversário de Andressa.
No dia 24 de dezembro de 1922, minha  noiva faria 20 anos, seriam duas comemorações: seu aniversário e o nosso casamento.
Estávamos contentes, as famílias reunidas em festa aguardavam ansiosas pela data.
Para lhe fazer surpresa, comprei toda mobília e iria dar-lhe de presente no dia de seu aniversário.
Nesse mesmo dia aproveitei para comprar alguns equipamentos de pesca; havia uma pescaria marcada para o dia 22, seria numa sexta-feira, dois dias antes da festa.
Conheci Andressa a quatro anos na festa de aniversário de seu pai. 
Convidei-a para dançar, ficamos conversando durante horas; uma semana após iniciamos o namoro com o consentimento dos pais dela.
Nessa época dividíamos nosso tempo entre o trabalho e estudos, mas guardávamos pelo menos uma hora todos os dias para conversarmos e matar a saudade. Não ficávamos um só dia separados.
Ela adorava crianças, seu sonho era ter um bebê.
Lembro-me de nossa última conversa como se fosse hoje:
_ Enquanto você vai pescar começo o enxoval do nosso futuro bebê.
_ Vou adiantar as roupinhas, farei tudo branco, assim servirá para menino ou menina.
_ Está bem Andressa, estarei no mar mas meu pensamento estará em você; chegarei sábado a tarde, então iremos comer os peixes na casa da sua avó.
_ Agora preciso ir embora, vou ajudar minha mãe que está preparando alguns alimentos e frutas para a pescaria.
Abraçamo-nos por um longo tempo, o relógio da sala bateu onze vezes, despedimo-nos e fui para casa.
Às quatro horas da manhã do dia 22, com meu irmão e colegas, fui de encontro ao barco que nos levaria a alto mar.
Uma pequena embarcação com oito metros de comprimento e três de largura, cobertura simples, dois beliches, banheiro não havia.
Éramos em cinco contando com o barqueiro. Todos trabalhávamos na mesma empresa a mais ou menos dois anos.
Julio meu querido irmão gêmeo estava radiante, era sua primeira experiência no mar.
O sol começou a rasgar a noite, uma bonita visão. Olhei para meus amigos e disse:
_Vamos pescar bastante para ter peixe em meu casamento.
A resposta veio do Julio, que sempre estava sorrindo e animado:
_ Oh sim ! O barco vai afundar com tanto peixe, ah, ah.
Às 05:30 hs embarcamos e seguimos rumo alto mar.
Navegamos durante 6 hs e 30 min, o dia estava bonito, trazia boas promessas, entretanto estávamos receosos pois a distância entre nós e a terra era grande; confesso que dava um friozinho na barriga ao ver tanta água.
Mar adentro, bem distante de nós, avistamos uma pequena ilha; não poderíamos saber seu tamanho real pois estava muito longe.
O barqueiro ordenou que lançássemos linhas grossas e fizéssemos braço firme para pegar peixe grande.
No final da tarde, o sol alaranjado e avermelhado sumia no horizonte; pescávamos, conversávamos, estávamos todos contentes, a pescaria tinha sido muito boa.
Alegre, meu irmão disse que o barqueiro havia ganho mais um freguês; Julio seria meu padrinho de   casamento.
Começou a escurecer, seria noite sem lua e as nuvens chegavam cobrindo todo o céu; em poucos minutos ficou muito escuro, o mar começou a agitar-se provocando mal estar em todos.
Peguei a sacola de mantimento, atravessei-a no pescoço,  deitado comendo frutas dormi durante duas horas.
Em meu sonho Andressa não foi ao casamento. Procurei por toda parte mas não a encontrei.
Assustado com o pesadelo levantei a cabeça e acordei.
Todos estavam dormindo nos beliches.
Para não acordá-los fiquei sentado ali mesmo, ouvindo o estranho barulho da água batendo no casco do barco; a escuridão era total, macabra, dava arrepios.
Sentindo sede levantei-me para procurar o galão de água, quando vi luzes bem perto.
Lembrei-me da ilha que avistamos durante o dia, achei que as luzes viessem dela; conclui que as ondas haviam arrastado o barco para perto delas enquanto dormíamos.
Entretanto observando com mais atenção, percebi que as luzes se movimentavam em nossa direção.








A   TRAGÉDIA


Assustado, chamei o barqueiro:
_Noel, corra aqui, tem uma coisa estranha vindo em nossa direção, parece um enorme navio.
Noel olhou para o monstro que vinha em direção do barco e apavorado correu para o motor.
Não podíamos acender as luzes pois dependiam da energia gerada pelo motor, quando em funcionamento.
Estávamos tensos, nada podíamos fazer.
Noel dava a partida mas o motor não funcionava.
Foi tudo muito rápido, o navio em alta velocidade cortou o barco ao meio e foi embora.
Todos gritamos e acenamos antes do choque, mas a escuridão e o barulho dos enormes motores, não deixaram que nos percebessem.
Segundos antes do impacto, Julio pulou na água segurando a prancha de madeira, em seguida pulei agarrado num botijão de gás.
O barqueiro morreu tentando fazer o motor funcionar, assim como os outros que não quiseram pular.
A água estava gelada; Julio apavorado se agarrava em mim; tentando acalmá-lo bebi bastante água.
O navio desapareceu rapidamente fazendo grande marola.
Sozinhos em meio a escuridão, esperávamos que o dia raiasse e que não fôssemos transformados em comida de tubarão.
Uma forte corrente nos arrastou a grande velocidade.
Enganados, pensamos que as águas nos levavam em direção à ilha.
Os cardumes batiam em nossas costa, barriga e pernas.
Permanecemos o tempo todo abraçados, tínhamos medo do que poderia vir por baixo.
Julio chorava desesperado, dizia que iríamos morrer.
A noite foi longa e congelante. Quase não agüentávamos a temperatura quando o dia começou a raiar.
Um intenso nevoeiro cobria tudo.
Estávamos duros de frio, mas por sorte quando o nevoeiro acabou, entramos numa corrente de águas quentes.
Desapontados percebemos que não havia ilha nem terra em direção alguma.
Com menos frio começamos a sentir fome, as frutas que estavam na sacola ajudaram a acalmar o estômago.
Conversávamos o tempo todo, eu dizia que talvez estivéssemos na rota dos navios e logo seríamos resgatados.
Julio estava muito abatido, ainda tremia de frio, nossa boca ardia, as mãos estavam pálidas, a pele toda enrugada.
Sentíamos muita sede e o sol castigava bastante.
Aos poucos vimos os últimos raios  de sol no horizonte.














A  MORTE

Um cardume de golfinho passou a uns 20 metros, podíamos ouvir o som estridentes de suas vozes.
O frio aumentava assim como a fome e a sede, a cruel escuridão trazia consigo suspense e medo.
A temperatura estava muito baixa, sentíamos tontura e enjôo, tremíamos sem parar.
Julio estava muito mal, tossia demais; curara-se de uma pneumonia há pouco tempo.
Ao ver  meu irmão se arrebentando de tanto tossir, achei que aquela seria nossa última noite.
Quase congelado pelo frio intenso, adormeci um pouco durante a madrugada.
Quando o dia raiou, Julio estava desmaiado debruçado na prancha; pude ver sangue em sua boca.
Massageei intensamente sua nuca, os pulsos, as costas, o peito, até que aos poucos tornou-se consciente.
Tremia descontroladamente, quase não conseguia falar.
Aproximadamente ás quinze horas ele morreu.
Lembrei-me que era véspera de natal, pensei em meus pais, lembrei-me que era o dia do casamento.
Coloquei seu braço em volta do botijão, de maneira que eu pudesse segurá-lo; tinha esperança de levar seu corpo para casa.
 O desespero bateu em meu coração; olhando para ele com carinho, pensei:
_ Fique tranquilo meu irmão, agora você não sofre mais.
Relembrei toda nossa infância, seus desejos, suas conversas; apesar de sempre estar doente, era muito animado e alegre; uma grande tristeza me fez chorar.
Agora eu estava sozinho e calado como meu irmão.
O desespero que penetrou minha alma era indescritível, pedi a Deus que me levasse também.
Aos poucos a escuridão trouxe a noite mais horrível de toda minha vida.
Meu corpo estava esquisito, não sentia os pés, estava congelado. O cansaço me consumia, a solidão vinha trazendo medo, abalava minhas esperanças.
Pensando em Julio e nela, em minha futura esposa, tentava reunir forças para lutar pela vida.
Andressa foi minha primeira namorada, dedicava minha vida a ela, trabalhava pensando em nosso futuro juntos.
Nunca saíamos de casa sozinhos, éramos inseparáveis.
As horas foram passando, quase sem forças dormi segurando o braço de Julio.
Quando o dia começou raiar, acordei falando com meu irmão:
_ Acorde, vamos para o casamento.
Mas o Julio tinha ido embora, não estava mais junto de mim, olhei em todas as direções e não o vi. Afundara enquanto eu sonhava.
Em prantos fechei os olhos e falei com ele:
_ Tchau Julio, vai com Deus, um dia nos veremos meu querido irmão.
O dia apresentava sinais de chuva, estava nublado com pouca visibilidade; olhei a minha volta e não vi sinal de terra.
Ressecada como o rosto, a garganta ardia.
Sentindo câimbra nas pernas e nos braços, quase não conseguia segurar o botijão.
Por volta do meio-dia começou a chuva; recebi os pingos como uma bênção, já não aguentava mais. Com a boca aberta e olhando para cima, bebi cada gota como se fosse a última.
O mar ficou agitado levantando ondas de três metros.
Fiquei com medo, a morte me envolvia, não aguentava mais segurar o botijão; pensava em Andressa para buscar forças. Não podia deixá-la, pedia forças a Deus e segurava bem o botijão.
Contra o balanço das ondas, subindo e descendo sem parar, lutava para não beber água salgada.
Quando começou escurecer a chuva parou e uma forte corrente de águas quentes carregou-me rapidamente.
Por volta das 21:00 hs, algumas baleias se aproximaram.
A sensação era pavorosa, quase esbarravam em mim; ficaram ali por muito tempo, depois calmamente desapareceram.
Minhas mãos quase não obedeciam, então amarrei a cinta ao botijão e adormeci, acordando somente quando entrava água no nariz.
Meus olhos e minhas costas queimavam, sentia gosto de sangue, achei que seria minha ultima noite.
Assim foi a indescritível noite: dormindo, acordando, quase sem forças, até que uma enorme onda estourou sobre mim, agarrei-me ao botijão e logo outra mais forte tirou meu fôlego.
Desesperado tentando me equilibrar, estiquei as pernas e senti batê-las em algo.
_ Um tubarão. Foi a primeira coisa que passou por minha cabeça. Apavorado encolhi-me puxando rapidamente os pés.
Olhei a minha volta para ver o peixe, mas uma imensa onda cobriu meu rosto, fazendo com que largasse o botijão e fosse lançado ao fundo com toda força. Bati a cabeça na areia e voltei à superfície puxado pelo botijão.





A  SURPRESA


Só então percebi que estava em terra firme.
Afirmando-me como podia pois quase não parava em pé, deixei que a força das ondas me levasse para a praia.
Fraco, tonto, deitado na areia desmaiei; quando acordei senti o rosto e as mãos queimando, o sol estava muito forte, era aproximadamente meio dia.
Arrastando-me procurei uma sombra, deitei embaixo de uma árvore e fiquei imaginando onde estaria.
Pensei ter boiado em círculo, acabando por parar na ilha que avistamos quando pescávamos.
Lembrei-me que já era dia 26 e não pude dar meu presente para Andressa, não pude casar.
Meus companheiros estavam mortos, meu irmão não suportou as noites geladas, não pude salvá-lo.
A minha frente estava o imenso oceano, atrás eram árvore e rochas.
Levantei-me com muita dificuldade, precisava encontrar água, a sede era insuportável.
Entrei na mata úmida que guardava no chão várias folhas molhadas. Peguei-as uma a uma colocando-as na boca e sugando-lhes o orvalho. Tinha gosto de mofo, gosto de terra; senti o estomago embrulhar, havia algum tipo de ácido misturado à água.
Continuei mata adentro, até que encontrei alívio numa pequena vertente de água limpa.
Agora precisava achar alguém que me levasse para casa.
A mata era escura e fechada, dificultava a caminhada, então resolvi voltar e prosseguir pela praia.
Andei bastante; fraco o cansaço me consumia, a fome cortava o estômago; estava tonto, a cabeça doía, os pés latejavam, o rosto e braços ardiam em consequência das queimaduras do sal e do sol.
O dia estava terminando e um forte vento varreu a praia, a areia subia formando uma cortina, e o mar engrossou levantando ondas enormes.
A roupa ainda úmida me fazia sentir frio.
Continuei vagando pela praia, até que um enorme paredão de rocha interrompeu minha caminhada; teria que dar a volta pelo mato se quisesse continuar andando. Como já estava escuro, preferi passar a noite deitado entre as pedras.
Foi outra longa noite de madrugada fria, o vento estava gelado, não conseguia parar de bater os dentes.
Da mata vinham vários barulhos, gritos, sons que eu desconhecia.
A pedra onde estava deitado machucava as costas, não encontrava posição melhor, meus pés e mão estavam congelado, a cabeça doía tanto que dava impressão de explodir a qualquer momento.
Logo que o sol reapareceu, levantei-me descendo da pedra com cuidado, pois me sentia muito fraco, a intensa dor de cabeça não me abandonava.
As horas se passaram, o sol me aqueceu, a dor de cabeça diminuiu, então consegui dormir um pouco.
Quando acordei com o rosto queimado e cheio de areia, percebi que a pele saia, estava todo esfolado.
Ainda tonto e com dificuldades, entrei na mata. Foi uma caminhada difícil: pisava em espinhos, meus pés enroscavam nos cipós, os ramos batiam nas feridas do rosto, mas consegui contornar o paredão e voltar para a praia.
Procurando uma sombra encontrei uma goiabeira carregada de frutas. Apesar de alta e escorregadia, subi e comi quantas pude pegar.
Meu estômago estava saciado mas sentia sede, precisava voltar a mata e procurar água.
Devagar comecei a descer da árvore; machucadas as mãos doíam, mas seguravam os galhos, os pés cortados e inchados também teria ajudado se o galho não tivesse quebrado.
Embaixo da goiabeira tinha uma grande pedra onde caí como uma abóbora, quebrando a perna direita.
No instante que caí não percebi a quebradura, mas quando tentei levantar-me, senti uma forte dor e um estalo no osso.
Era aproximadamente 17:00 hs; sabia que se aproximava a pior de todas as noites.
Agora a mercê da sorte, deitei e mordi um galho seco, para aliviar a violenta dor. Parecia que minha perna estava sendo arrancada; imóvel, esperei a noite que chegou mais gelada do que nunca.
Os ventos uivavam levantando areia; a dor de cabeça voltou, meu rosto queimava, minha perna latejava, a garganta estava seca.
Achando que não viveria por muito tempo, relaxei tentando dormir, quando uma ferroada na perna me despertou; era um caranguejo tentando me comer, mas acabou virando comida.
O céu estava estrelado, o mar se acalmou; fiz um travesseiro de areia e olhando para cima pensei em minha vida.
_ Não pude dar o presente para Andressa, não pude desejar feliz natal para o Julio.
É Julio.., esse foi Nosso Ultimo Natal.
Algumas lágrimas correram pelo rosto fazendo as feridas arderem.
_ Minha vida esta acabada, esta perna vai me matar.
Com febre, adormeci envolvido em pensamentos; acordei somente quando o dia raiou.
A perna inchada e o osso fora de posição, pediam uma tala; precisava encontrar um galho para colocá-lo no lugar.
Arrastando-me na areia achei o que precisava.
Rasguei a perna direita da calça e com ela fiz algumas tiras. A custo de dificuldades e dor, a tala estava pronta no entanto não podia levantar-me, a dor era intensa.
Arrastando-me fui até as pedras, na tentativa de matar a sede comi alguns mexilhões.
Tudo era difícil, com muito esforço voltei à areia, minha mão sangrava, a perna doía muito, estava roxa.
O dia quente fazia a sede aumentar, as fortes dores tornavam as horas intermináveis.
Deitado à sombra de um coqueiro, com febre e tontura, desmaiei, não vi a noite chegar.
Quando acordei estava coberto de areia, a dor muito forte não permitia que me mexesse.
Por volta das 23:00 hs um caçador me achou.











OS  HABITANTES  DA  ILHA
                  
Sem falar nada me olhou e foi embora, voltando uma hora depois com uma maca improvisada.
Ele e sua esposa, uma senhora de meia idade, levaram-me para a casa que tinham na ilha.
A febre continuou noite adentro e o dia todo, mas o pior foi durante a madrugada.
Colocavam água em minha boca através de um pano molhado. Às 3:00 hs acordei soltando sangue pelo nariz; olhei a minha volta pensando que estava em casa, chamei por minha mãe várias vezes.  A febre aumentava prolongando o delírio por toda a madrugada: chamava Andressa, gritava o nome de meu pai, chorava chamando meu irmão.
Por volta das 6:00 hs acordei ouvindo o galo cantar.
Uma senhora de 42 anos, aparentando ter mais idade, rosto marcado pelo tempo e grossas mãos entalhadas pelo trabalho, perguntou-me se estava melhor.
_ Acho que sim !
_ Está em minha casa; você precisa tomar um pouco de sopa, espere que vou buscar.
_ Senhora, gostaria de tomar água.
Na ilha moravam duas família: senhor Álvaro e dona Irene, eram donos da casa onde eu estava, tinham apenas um filho com 6 anos de idade.
Na outra casa morava dona Francisca e duas filhas: uma com cinco,  a outra com dezesseis anos; o pai das meninas, senhor Amâncio, morreu em 1920.
Amâncio e Álvaro eram filhos de um superior da marinha; filhos do coronel Armando e da mestiça dona Iracema, sua esposa.
Aos 39 anos o coronel acidentou-se numa manobra militar; um ano depois do acidente foi reformado, e após dois anos, dona Iracema sua primeira esposa, faleceu deixando o coronel sem herdeiros. Mais dois anos passaram e o coronel em passeio à Manaus, conheceu uma mestiça com o nome de sua ex-esposa.
Iracema com vinte e quatro anos, filha de índia  com holandês, tinha a pele cor de bronze, olhos verdes, cabelos lisos, compridos e negros. Casou-se com o coronel e foram morar na ilha.
Naquela época, o paraíso do coronel, uma bonita ilha, ficava na rota dos grandes navios que navegavam em águas internacionais.
Para a ilha levou porcos, ovelhas, cabritos, aves, tatus, porcos do mato, lebres, galinhas, patos, abelhas, e outros.
Plantou árvores frutíferas, milho, mandioca, cana de açúcar, bananeiras, café, fez hortas e cuidava das colmeias espalhadas pela mata.
Possuía uma enorme lancha que usava para chegar até os navios. Na casa havia um bom rádio, que usava para fazer contato com a terra e os navegantes.
Logo Iracema ganhou um menino, a criança chamou-se Amâncio, um ano depois nasceu Álvaro. 
Quando atingiram a maioridade deixaram a ilha voltando alguns anos depois, um pouco antes da morte do coronel. Casados, trouxeram as esposas e fizeram da ilha morada permanente. Quinze anos depois, a mãe de sangue mestiço morreu, os navios mudaram a rota.
Estava tudo diferente: a casa grande precisava de reformas, o rádio não funcionava, a lancha afundou.
A ilha estava totalmente isolada, os navios desapareceram e ninguém mais se lembrava dela.
Somente o velho gerador de energia ainda funcionava; era impulsionado pelo vento que nunca faltava na ilha, mas pouco importava pois as lâmpadas e o chuveiro estavam queimados.
Nessa época os irmãos resolveram derrubar a casa grande; com o material retirado construíram duas menores, não precisavam de muito espaço pois ainda eram quatro pessoas.
Com medo por estarem longe da medicina, às mulheres não queriam crianças, temiam morrer no parto.
Mas como a vida não é como queremos, Francisca esposa de Amâncio ganhou uma menina, que em homenagem a sogra foi chamada Iracema.
Dez anos depois, na casa do Sr. Álvaro nasceu Armando, um menino grande e bonito. Nessa época, dona Francisca esperava outra menina, era Aninha que estava a caminho do nascimento.
Isolados sem ter como ir para o continente, continuaram suas vidas cultivando a terra, caçando e retirando mel.
Eram ótimas pessoas, tratavam-me como se fosse da família:
_ Prepare-se rapaz, agora você é o mais novo morador da ilha; não tem como sair; estamos isolados há muitos anos.
Logo acaba se acostumando, a ilha é o nosso paraíso, é um grande privilégio morar aqui.
Anime-se, logo você vai andar, nadar ou se preferir vai caçar, pescar; aos poucos as coisas melhoram.
Dessa maneira Sr. Álvaro estava sempre me encorajando, entretanto sentia-me um prisioneiro, a ideia de ir embora nunca acabaria; sabia que um dia iria embora, mesmo que muitos anos passassem, assim eu pensava.




UMA  NOVA  VIDA


Dona Irene colocando mel em meu rosto todos os dias, fez com que as feridas logo desaparecessem; minha perna doía menos, então comecei a andar na muleta que o Sr. Álvaro fez.
Iracema era a filha mais velha de dona Francisca, inteligente e trabalhadeira ajudava a mãe nos afazeres; pescava com uma rede feita de corda de vegetal, fazia roupas, farinha e cozinhava.
A mandioca e alguns peixes eram transformados em farinha; Dona Iracema, a avó mestiça, ensinara os filhos e noras a sobreviverem da natureza; ensinou-lhes fazer vasilhas de barro e de pedra, curtir o couro, fazer roupas, remédios, etc...
O sal era retirado da água fervida em um grande caldeirão de ferro fundido, o açúcar vinha da cana e do mel, a água doce usada para beber, vinha do riacho que descia do alto da ilha, indo em direção ao mar.
Viviam bem, eram felizes, tinham tudo que precisavam.
À tardinha, sentados nas redes embaixo das árvores, conversavam e contavam histórias para as crianças.
Numa dessas tardes contei-lhes minha história; queriam ajudar-me mas nada podiam.; sem um bom motor era impossível tentar chegar à rota dos navios.
Seis meses se passaram, voltei a caminhar e minha perna aos poucos voltava ao normal.
Durante o dia esquecia minhas tristezas ajudando-os no trabalho, mas à noite quando o silêncio imperava, a saudade e as lembranças me atormentavam.
Pensava em minha noiva, minha família, nas ruas e calçadas do bairro; sempre sonhava com Julio a meu lado no mar.
O ano terminava; meu corpo já não tinha as marcas do desastre, mas minha mente ainda guardava profundas lembranças.
Aprendi a cuidar da horta e ajudava Iracema nos afazeres e na pescaria.
Dona Francisca, muito trabalhadeira, preocupava-se com os preparativo do natal, todos estavam alegres.
Era o primeiro natal longe dos meus, as lembranças se tornaram nítidas, era como entrar na máquina do tempo.
Afastando-me da casa, subi na pedreira e lembrei meu passado: Dimas era o nome do funcionário da loja onde comprei os móveis.
Minha mãe estava contente, gostava muito de minha noiva, dizia que aquele seria o natal mais feliz de sua vida.
Meu pai pediu-me que não fosse pescar e Andressa dizia estar vivendo os dias mais felizes de sua vida.
Perdido em pensamentos, olhando o horizonte, querendo enxergar minha terra, não percebi o tempo passar.
_ Nino, venha precisa me ajudar, vamos pegar um leitão para assar. O menino Armando queria minha ajuda.
_ Vá Armando, logo estarei lá !
  Era 24 de dezembro de 1923; lembrei-me que no ano anterior Julio estava ao meu lado, era aniversário de minha noiva, nosso casamento iria se realizar.
Meu corpo estava no paraíso, porem minha mente no passado, fazia em cacos meu coração.
Falando comigo mesmo, pensava:
_ Por que tanto sofrimento em nossas vidas ?
_ Daria tudo para saber porque isso aconteceu...
_ Venha Nino, ande logo precisamos de você, porque demora ?  Falando alto, Iracema veio me chamar.
A menina estava sempre ao meu lado, perguntava coisas sobre a cidade que nunca viu; era boa filha e dedicada companheira.
Aproveitava meus finais de tarde para ensinar lições de escola, que geralmente as crianças não gostavam. Queria vê-las lendo e escrevendo, mas não sabia se daria tempo; planejava construir uma jangada e seguir rumo a rota dos navios.
Todos diziam que era impossível; Sr. Álvaro explicava que o vento e a corrente marítima vinham de encontro eliminando todas as possibilidades.
Iracema e Armandinho não queriam minha partida.
_ Se for..., irei com você e terá que tomar conta de mim !
_ Você entendeu Nino ? Brava, com os olhos estalados, Iracema falava com muita convicção, algumas vezes dava a impressão de ser minha irmã.
À noite reunimo-nos em festa; embora um pouco triste, cantei músicas de natal, nos abraçamos e falamos com Deus pedindo saúde, união e fartura.
Um delicioso vinho feito por Iracema foi servido; a mesa estava farta, tinha pão, arroz, coelho, frango, leitão, peixe, saladas, doces, sucos, bolos e saladas de frutas.
Oito meses se passaram, minha jangada estava pronta e esperava-me do outro lado da ilha, exatamente no ponto que cheguei.






A   TENTATIVA



Quando chegou a madrugada, peguei meu casaco feito por Iracema, com pele de carneiro, peguei duas cumbucas cheias d’ água, mel e suprimento para cinco dias.
Como não poderia seguir em linha reta até rota dos navios, resolvi sair do lado oposto e contornar a ilha.
Subindo na jangada, afastei-me aproximadamente quinhentos metros da terra, aos poucos alinhei a jangada na direção exata e então comecei a remar; seguia um metro à frente e voltava dois, o vento vinha de encontro empurrando a jangada; as coisas começaram a dar errado.
O pavor tomou conta de minha mente; Tudo estava ficando para trás: a rota dos navios, a ilha.
Percebi que o momento era aquele, teria que tomar uma decisão rapidamente; então pulei abandonando a jangada, precisava ser ágil para sair da corrente marítima.
Ondas de cinco metros se levantavam a minha frente.
Lutei contra os ventos e a água durante duas horas e meia. Cheguei na areia quase morto; caso precisasse nadar mais meia hora teria morrido.
Ao me aproximar da zona de arrebentação, pude ver que estavam todos na praia.
Quinze anos mais tarde Nino descobriu por acaso, que somente em janeiro e fevereiro as correntes marítimas seguiam em direção da rota dos navios; mesmo assim nunca mais tentou.
Quatro anos passaram, já pertencia a família; Sr. Álvaro e dona Irene me chamavam de filho e diziam que a ilha também era minha.
Dona Francisca estava doente, a maior parte do tempo ficava deitada, até que um dia ao perceber que estava muito mal, chamou todos para se despedir.
Aconselhou as filhas, pediu a todos que cuidassem delas, falou pouco pois sua respiração estava ofegante.
Pediu-me que casasse com Iracema e cuidasse da Aninha.
_ Ela será uma boa esposa e você deverá ser um bom marido. Cuide por mim da Aninha, ela é uma boa menina.
Uma semana depois ela morreu.
As meninas foram para a casa do Sr. Álvaro, eu fui para a casa delas. Iracema estava com 22 anos, era uma mulher muito bonita, tinha cabelos pretos, longos e olhos verdes como a avó.
Sete meses após a morte de sua mãe, Sr. Álvaro disse-nos que precisávamos marcar a data do casamento.
Iracema estava alegre, mas eu sabia que o casamento iria roubar minhas últimas esperanças de voltar para casa.
As lembranças nunca me abandonaram, sentia saudades e tinha muita esperança de voltar.
Conversando com Sr. Álvaro falei sobre minhas dúvidas e inseguranças, mas ele achava que não havia problema algum, pois se houvesse oportunidade para sair da ilha, essa oportunidade seria para todos que quisessem.



   
      




MUDANÇAS  NA  FAMÍLIA


Uma semana depois estávamos casados e ficamos morando na casa de dona Francisca.
Em 1930 o Sr. Álvaro morreu; dona Irene, de tristeza a cada dia morria um pouco, até que um ano e meio depois, também se foi.
Um pouco antes de sua morte, Sr. Álvaro contou em segredo para o jovem Nino, onde estava enterrado o cofre de moedas de ouro de seu pai, o cofre do coronel Armando:
_ Esse segredo cabe somente a aquele que for líder desta ilha; o dinheiro deverá ser usado somente em caso de extremo.
Caso não precise ou não tenha como usá-lo, um pouco antes de sua morte, deverá dizer ao futuro líder da ilha, o local que o baú está enterrado.
Armandinho sentindo falta dos pais, a cada dia se agarrava mais a mim, até que um dia começou a chamar-me de pai Nino.
Em 1931 Iracema me deu um menino, já nasceu grande, era uma criança bonita e saudável, recebeu o meu nome.
Teria que ser valente como o pai; agora a ilha tinha mais um Nino.
Senti toda a responsabilidade sobre minhas costas; uma nova geração dominava a terra do coronel.
Quinze anos se passaram, minhas ideias e objetivos eram outros, o menino estava grande, queria que conhecesse o continente, queria que estudasse mas não tinha como tirá-lo da ilha e muito menos poderia mantê-lo no continente.
Não poderia gastar o dinheiro do cofre, pois isso não era coisa de última necessidade.
Um dia, conversando com o menino, contei-lhe que havia um cofre enterrado na ilha, mas não poderia usar esse dinheiro, expliquei-lhe o porquê e ele entendeu:
_ Filho, se um dia Deus quiser que vá para o continente, você irá e não precisará desse dinheiro.
Dito e feito, pois o destino sempre reserva surpresas, as mudanças acontecem quando menos se espera.
Aninha e Armando estavam casados e tinham duas crianças, um menino e uma menina.
Armando chamou o menino de Álvaro, homenageando seu pai e Ana chamou a menina de Francisca em memória de sua mãe.









VISITAS

Desde pequenos os dois se deram muito bem e assim continuavam criando seus filhos.
Numa tarde de verão, sentados em cima do píer, observávamos uma porca com 12 leitões, quando uma enorme lancha se aproximou. As mulheres e crianças correram para casa, mas eu o Nino e Armando ficamos observando.
Perguntaram se podiam descer, respondi que sim.
O homem saiu da lancha e veio sentar-se a meu lado; contou-nos como se perderam.
Estavam desorientados e para não arriscar, preferiram parar em busca de ajuda.
  Indicamos a direção que deveriam tomar, mas seria melhor que dormissem na ilha saindo pela manhã.
Era um grande empresário com sua família.
Pareciam ser pessoas muito boas; tinham uma tecelagem, fabricavam tecidos e cobertores.
Contando-nos sobre a viagem, ele pediu desculpas e perguntou por que usávamos roupas feitas com peles de animais.
Falamos que havia passado quinze anos, quando vimos pela última vez um pedaço de pano.
Assustado e intrigado com a situação, nos ofereceram um grande rolo de tecido que estava guardado no fundo da lancha.
Conversamos muito, contei-lhes toda nossa história e disse-lhes que a maior riqueza para mim era minha família:
_ Somos pessoas humildes e temos boa índole, o que é de um é de todos, tudo é repartido em partes iguais.
Para sermos fortes, estamos sempre unidos em tudo, até mesmo nos pensamentos.
A família do Sr. Euclides estava encantada com nosso modo de vida.
Acomodamos todos numa terceira casa, a mais nova da ilha; tomamos café, jantamos e fiquei de levá-los para passear no dia seguinte.
Três dias a família ficou conosco; Amadeu filho do Sr. Euclides tinha a mesma idade do Nino; conversavam muito, Nino ensinava-lhe falando da natureza e Amadeu contava-lhe coisas da cidade.
Mas como tudo tem fim, era chegada a hora de partirem.
_Porque o senhor não vem comigo, senhor Nino ?
_Posso arrumar casa e trabalho para todos.
_Agradeço muito Sr. Euclides, há muitos anos atrás poderia fazer-me um grande favor oferecendo essa viagem, mas hoje eu pertenço a minha família e a vida deles está nesse pequeno pedaço de chão, não posso ir.   
_ Vamos pai ! Gritou Nino.
_ Eu quero conhecer a cidade !
_ Não, não posso ir, temo não encontrar meus pais e minha irmã, não posso ir.
_ Então me deixe levar seu filho, posso dar-lhe estudos, irá nos ajudar na tecelagem e sempre que puder virá vê-los.
_ Veja o lado bom de tudo isso, com o tempo e através de seu filho, terá uma casa na cidade e poderá visitá-lo.
_ Bem Sr. Euclides, sei que tem boas intenções, sua família é maravilhosa e o seu convite é honroso, mas não posso decidir sozinho, preciso falar com a mãe dele e também saber o que acham os outros.
Afastando-se, Nino foi ter com Aninha e Armando, depois foi falar com sua esposa.








NOVOS   RUMOS

_ Iracema, o que você acha ?
_ Todos concordam mas preciso de sua opinião.
_ Acho que a decisão é dele, o que ele resolver para mim está bom.
Assim Nino Filho partiu rumo ao continente, voltando muito alegre um ano depois; chegou contando sobre tudo que viu e aprendeu, estava na escola e também tinha aulas com professores que iam até sua casa, estava muito feliz mas sentia saudades da família e da ilha.
Dona Márcia, esposa do Sr. Euclides, mostrou-se contente com a presença de Nino em sua família:
_ Ele é uma boa companhia para o nosso filho.
_ Onde vai um o outro está atrás, vivem muito bem.
Ficaram dois dias na ilha e foram embora carregando Armando, Aninha e as crianças.
Senti-me totalmente dividido, novamente estava meu corpo na ilha e meu coração no continente.
_ Iracema, acho que nasci para sofrer, a vida sempre me separa daqueles que amo.
_ Por quê o destino é tão cruel comigo ?
Dois anos se passaram, era 21/12/1949; sentados num tronco em frente à casa, pensávamos na vida.
_ Iracema, esse será mais um natal que estaremos sozinhos.
_ Não pense nisso Nino, estamos bem e nossa família também, você tem a minha presença e agora a ilha é toda sua.





O  IMPACTO


_  Lembra-se de quando nos casamos ?
_ Você disse que seria bom se a ilha fosse somente sua.
_ Sim, lembro-me, mas hoje percebo que ela nada vale sem a presença daqueles que amamos.
_ O rapaz que pensava daquela maneira já morreu, agora sou outro homem e tenho outra cabeça.
Entretidos com a conversa, não ouviram o barulho do motor de uma lancha que se aproximava.
_ Papai, mamãe, sou eu Nino, venham conhecer minha noiva.
Lá embaixo, dentro da lancha, o rapaz gritava eufórico.
Todos voltaram à ilha para o natal e trouxeram Eliza, a noiva do Nino.
Conheceram-se numa excursão. Elisa morava em outra cidade; viam-se nos finais de semana.
Cansado, Sr. Euclides foi tirar uma soneca; dona Márcia, Iracema e Elisa foram ao pomar, Nino foi conversar com o pai, tinha algumas novidades.
_ Pai, tenho algo muito importante para contar para o senhor, acho que nem vai acreditar, mas lhe garanto que não vou falar mentiras.
_ A mãe da Elisa se chama Andressa.
_ E daí ? Que importância tem isso ?
_ O senhor não falou que o nome de sua ex-noiva era Andressa ?
_ Sim, mas o que tem de importante nisso ?
_ Existem milhares com esse nome !
_ Sim pai, mas essa Andressa, a mãe da Elisa, é a sua ex-noiva.
_ Como tem certeza disso ?
_ Tenho certeza por que contei sua história para ela, falei do Julio que morreu a seu lado, falei o nome de minha avó, a sua mãe, então ela me disse que o senhor é o ex-noivo dela.
Ela esperou muitos anos porque achava que o senhor não tinha morrido, mas depois se casou com um dentista.
_ E minha mãe está viva ?
_ Não, vovó e vovô já morreram, mas sua irmã tem uma filha.
_ E porque ela não veio para a ilha ?
_ Ela não veio porque seu marido está no hospital, ele teve um derrame que paralisou o braço esquerdo.
As novidades foram um choque para Nino. Agora ele estava realmente decidido, não mais voltaria para o continente.
Armando e Aninha estavam felizes, moravam numa boa casa, tinham muitos aparelhos elétricos e as crianças iam bem nos estudos.
A ilha ganhou lâmpadas e o natal foi de muita festa e alegria.
Alguns anos passaram, Nino Filho e Elisa casaram-se, e a festa foi realizada na ilha; Nino reencontrou sua irmã e Andressa após 30 anos. Nino e Andressa, apenas se cumprimentaram e nada mais.
 
      








O  DESCANSO


Dez anos se passaram; Nino, Elisa e seu filho Augusto, foram para ilha comemorar o aniversário de Iracema.
Lá debaixo, em cima da lancha, Nino gritou:
_ Pai, mãe, cheguei, sou eu, Nino.
A ilha estava em silêncio.
Achando estranho, Nino saiu correndo do barco, indo em direção a casa.
Seu pai estava deitado na cama, quase não dava para reconhecê-lo, estava em pele e osso.
_ Pai, o que aconteceu ?
_ Onde está mamãe ?
Com dificuldade ele respondeu:
_ Uma doença..., matou sua mãe.
_ Está enterrada junto com sua avó.
Nino estava com a mesma doença. Foi rapidamente colocado na lancha, iriam levá-lo ao médico, mas antes que a lancha partisse ele morreu.
Nino se esqueceu de contar para o filho onde estava enterrado o cofre. Morreu em 03/10/1962.
Concluo que seu filho o tenha sepultado junto à  esposa, pessoa que ele tanto amava.









O  CLIENTE


Na sala havia um rapaz deitado sobre o divã, à sua frente uma grande tela.
Um pequeno arco de metal fixava dois eletrodos na lateral de sua cabeça.
Fios ligados aos eletrodos, levavam informações do cérebro para um grande aparelho chamado decodificador de ondas cerebrais.
Ao lado do rapaz, sentado em poltronas, dois homens conversavam observando as imagens reproduzidas na tela:
_ O que achou Sr. Jorge ?
_ A máquina não é fantástica ?
_ É claro que antes de mais nada a pessoa tem que ser colocada em transe hipnótico, depois a máquina faz o resto.
Toda as memórias são guardadas no cérebro em forma de energias; o trabalho da máquina é captar e canalizar essas energias, transformando-as em som e imagem, ou seja, dessa maneira as memórias são reproduzidas como um filme, com som e imagem.
A história de Nino e todas essas lembranças, estavam guardadas nas memórias do subconsciente do Ângelo, filho do Sr. Jorge.
Através do processo hipnótico e da máquina do tempo, Ângelo resgatou memórias de seu remoto passado, resgatou lembranças da época em que se chamava Nino.
A pedido do pai, o rapaz com dezoito anos, submeteu-se à ciência, possibilitando-nos descobrir uma parte do seu passado.
Dois anos depois de haver concluído meu trabalho com Ângelo, reencontrei seu pai, o Sr. Jorge.
Após dar-me um forte abraço, falou:
_ Consegui várias informações sobre a vida do Nino Filho; também descobri que ele é o atual morador da ilha.
_ A história do Nino, meu atual filho Ângelo, nos diz que o Nino Filho que está na ilha, é descendente do meu filho Ângelo. Estou certo ?
_ Não está bem certo, é quase isso; Ângelo e Nino pai, são as mesmas pessoas, porem Nino Filho é descendentes do Nino pai e não do Ângelo. Embora o espírito do Nino e do Ângelo sejam o mesmo, Nino pai tinha um corpo e Ângelo tem outro.
_ Agora lhe peço que se acalme, está muito eufórico. O senhor aceita uma vodka ?
_ Enquanto bebemos poderá dizer-me o que descobriu sobre a família Rocha.
Sr. Jorge não descobriu muita coisa de interesse; procurou-me porque queria mais informações; muitas perguntas estavam em sua mente; sempre foi uma pessoa muito detalhista.
Tudo começou em março de 2000, quando o conheci numa festa familiar.
Conversávamos sobre situações que induzem ao trauma, coisas que revelam medos inexplicáveis, memória que o consciente não consegue resgatar e que estão alojadas no subconsciente.
Ele falava sobre o filho, dizia que era muito corajoso, mas tinha um problema que se manifestava quando o rapaz subia num barco em direção a alto mar; nessa hora transformava-se de tal maneira, que impressionava qualquer um que o conhecesse. Tornava-se um medroso de primeira mão.
Entre conversas e história, perguntou se eu poderia fazer regressão de memórias com seu filho Ângelo.
_ Mas porque tem esse desejo ? Perguntei.
_ Quer curá-lo?
_ Quer que desapareça o medo que ele tem ?
_ Se for possível sim, mas também gostaria de saber o que causou esse trauma.
Dessa maneira tudo começou; no ano 2000, depois de muitas sessões de hipnose vasculhando o subconsciente do Ângelo, soubemos tudo sobre sua vida passada, a vida do Nino; vida essa iniciada em 1900, onde recebera o nome de Antonino Rocha, apelidado carinhosamente como Nino.
Agora intrigado com os fatos da história do Nino, Sr. Jorge queria explicações para suas dúvidas:
_ Escute bem o que vou lhe falar. Tenho quatro filhos, todos são muito bons e educados, entretanto Ângelo é muito diferente dos outros. Sem querer menosprezá-los, digo que Ângelo é ainda melhor. Tem um ótimo coração, tudo que é dele é dividido; não tem ganância e está sempre pronto para ajudar.
_ O que me intriga é o fato de tanto sofrimento, na época que o nome do Ângelo era Nino.
_ Por que Nino separou-se da família e da noiva que tanto amava ?
_ Por que era sempre separado daqueles que amava ?
_ Por que perdeu o irmão tão drasticamente ?
_ Acho que é muita injustiça com uma pessoa tão boa.
_ Pergunte a todos e saberá o que digo; Ângelo é uma pessoa amável, tem muitos colegas, amigos, sempre foi elogiado por sua educação e atenção que dá a todos.
_ Quero saber se podemos fazer outra regressão e descobrir o porquê de tanto sofrimento com uma pessoa tão boa e estimada.
_ Sim Sr. Jorge, mas antes precisamos consultar Ângelo; caso concorde e consiga resgatar as memórias que antecedem a vida do Nino, com certeza terá as respostas.
Ângelo também estava curioso; uma semana depois iniciamos a primeira etapa, seria o trabalho que revelaria todos os porquês, saberíamos o motivo das angústias e aflições da vida do Nino pai.










NA  FAZENDA

Em julho de 1690, numa grande fazenda, o poderoso Emílio morreu.
_ Ele morreu mamãe, meu pai morreu !
_ O que faremos agora ?
_ Como vamos viver sem ele ?
_ Acalme-se Maria José, assim Joana sua irmã entrará em pânico; seu pai estava muito doente, levante a cabeça, confie em Deus e tudo dará certo.
Emílio chegou ao Brasil com a família aos 5 anos de idade; trabalhou com o irmão na fazenda de seu pai, Sr. Joaquim, até completar 25 anos, depois foi embora para a cidade onde conheceu sua esposa, dona Amélia.
Quando soube que seu pai havia morrido, voltou à fazenda e comprou a parte da herança que era de seu irmão.
As terras eram administradas por Jonas, que desde pequeno sempre foi muito prestativo e esperto, conquistando rapidamente a confiança do Sr. Joaquim; enciumado Emílio o detestava, tornou-se gratuitamente seu inimigo.
As coisas estavam complicadas para Jonas, pois Emílio, agora como dono da fazenda, mandava:
_ Pegue sua mulher, seus filhos, suas bugigangas e vá embora. Emílio expulsou Jonas da fazenda.
Poucos dias depois, ao saber dos fatos, o irmão de Emílio chamou Jonas para trabalhar em sua fazenda.
Jonas tinha quatro filhos, mas o xodó era o caçula, mimado e protegido por todos.
_ Jonas, não leve o Alberto, ele não pode tomar muito sol.
_ Alberto, olhe o que comprei para você.
_ Alberto, você é o menino mais lindo do mundo.
_  Alberto, você é muito esperto e inteligente.
Quando Alberto completou doze anos, seu pai queria levá-lo para trabalhar, mas ele se negava.
_ Não vou, o que eu ganho de ficar arrebentando no sol ?
_ Não sou burro de carga.
_ Alberto, acompanhe seu pai e seus irmãos, vá trabalhar.
_ Não posso, estou com dor de barriga.
Mas quando Alberto completou quinze anos, o patrão perguntou para Jonas, porque o menino não trabalhava.
_ Ele trabalha sim patrão, é que prefiro que fique ajudando a mãe.
_ Ora, ora, Jonas, isso é serviço que se de para um menino tão esperto ?
_ Isso não é certo, quero que você o traga a partir de amanhã; ensine-o a fazer trabalho de homem.
_ Onde já se viu isso, o que quer que ele seja ?
_ Um maricas ?
_ Está bem patrão, amanhã mesmo estará comigo.
O trabalho representava inferno para Alberto.
_ Eu não quero mãe. Isso é vida de pobre, não nasci para isso.
_ Procure entender Alberto, somos pobres mas somos dignos, respeitados e vivemos bem, não nos falta nada.
Precisa se acostumar ao trabalho, um dia irá casar, terá que sustentar sua família, precisará comer para viver.
_ Não preciso de nada disso, quando crescer casarei com a filha de algum fazendeiro rico.
Cada semana ele arrumava uma doença diferente, uma desculpa diferente.
Todos percebiam sua inteligência; com jeito sempre conseguia o que queria.
Quando completou vinte e um anos, acompanhado pelos irmãos, foi à uma festa, a festa que mudaria o rumo de sua vida.
As comemorações religiosas estavam sendo realizadas no povoado mais próximo da fazenda.
Tinha missa, procissão, provas competitivas, cantoria de violeiro, muita comida e muita gente.
Naquele ambiente havia tudo que Alberto queria.
Andando para lá e para cá, interessou-se por uma moça muito elegante e muito bonita.
Atento e detalhista, logo percebeu que ela usava roupa e sapatos finos, caros; na cabeça havia um arco cravejado de diamantes.
Impressionado aproximou-se; decidiu que precisava conhecê-la imediatamente.
Conversaram pouco porque o pai da moça havia chegado, mas o assunto foi suficiente para atrair  a tentação dos dois; assim iniciaram o romance.
_ Preciso ir Alberto, meu pai vai me chamar, sabe onde moro, vá me ver.
Ele tinha acabado de conhecer a filha do Sr. Emílio, inimigo numero um de seu pai, mas esse detalhe não o intimidava. Explodindo em contentamento, só pensava nela:
_ Maria José, que moça fascinante; bonita e rica, não quero mais nada da vida.
_ Não contarei nada pra ninguém, só ficarão sabendo quando eu estiver casado.
_ Ela não pode conhecer minha família, eles são muito caipiras e pobres.
Agora tudo era uma questão de tempo.
Alberto havia achado sua mina de ouro, por nada deste mundo desistiria.
Quinze dias depois, na fazenda, pediu ao patrão que desse a ele a incumbência de ir ao povoado buscar alimentos.
_ Está bem Alberto, a partir de agora é você quem faz as compras, prepare-se e saia amanhã bem cedo.
Agora era a hora de colocar os planos em ação, tudo estava preparado, o dia chegou.
Sem que ninguém percebesse, colocou a sela mais nova escondida no fundo da carroça, enrolou sua melhor roupa e botas num cobertor, e seguiu usando um bonito chapéu.
Algumas horas depois, após terminar as compras, resolveu que era hora de colocar seu plano em ação.
Um quilômetro antes de chegar à fazenda do Sr. Emílio, tirou o cavalo da carroça, colocou-lhe a sela nova, trocou de roupa e pegou um pequeno embrulho.
Na entrada da fazenda conversou com o capataz:
_ Por favor senhor, trago um recado e uma encomenda para a senhorita Maria José, poderia chamá-la ?
Não demorou e a moça apareceu.
_ Oh, é você ?  Por favor entre.
_ Não, não, deixe para outra hora, vim somente para trazer-lhe algumas rapaduras feitas na fazenda de meu pai, tenho muitos afazeres para hoje, não posso demorar.
_ Mas que bom, mamãe adora rapaduras, venha vai conhecê-la.
_ E seu pai está ?
_ Papai saiu, mas outro dia que vier poderá conhecê-lo.
Aliviado o rapaz resolveu entrar; conversou a tarde inteira, conquistou a mãe e a irmã da moça, falou um monte de mentiras e quando já era bem tarde, foi embora.
Chegando na fazenda com cara de muito cansado, roupa suja de graxa, desculpou-se dizendo que demorou porque a roda da carroça havia saído.







O   ROUBO


Com  um jeitinho aqui e outro ali, Alberto sempre estava vendo sua namorada, até que um dia, um ano e meio depois as coisas tornaram-se mais difíceis: houve um roubo na fazenda do Sr. Emílio, levaram dez sacos de feijão, dez de milho e um boi.
Logo que o dia raiou, empregados e escravos sentiram falta dos pertences.
_ Sr. Emílio, roubaram a fazenda.
_ Roubaram o que Elias ?
_ Roubaram milho, feijão e o Malhado.
_ Mas como isso aconteceu ?
_ Procurem em todo lugar, matos, fazendas, entrem até na igreja, se não encontrarem eu mato um desgraçado.
Sr. Emílio estava rico, muitos o chamavam de coronel, possuía três enormes fazendas, muito gado, muitos escravos, muito dinheiro escondido dentro de um baú enterrado no porão de sua casa, mas continuava mesquinho, abria a mão somente para negociar e comprar presentes para as filhas.
Apavorados, empregados e escravos saíram à procura; andaram três dias e nada encontraram, então resolveram chegar até a fazenda do irmão do Sr. Emílio.
Da porteira  Elias avistou Alberto.
_ Bom dia moço, quem é aquele rapaz que está raspando o casco do cavalo ?
_ Ele é meu irmão, Alberto, filho do Sr. Jonas, administrador da fazenda.
_ Algum problema com ele ?
_ Não, apenas preciso falar com seu pai.
Jonas veio atendê-lo mas não permitiu que entrassem na fazenda:
_ Voltem outro dia porque hoje o patrão não está, e já vou adiantando que aqui não tem ladrão.
Elias e o pessoal foram embora de mãos vazias, pensando como iriam encarar o Sr. Emílio.
_ Patrão, não encontramos nada, mas na fazenda de seu irmão mora um rapaz que esteve aqui um pouco antes do roubo.
_ Quero que coloque homens vigiando dia e noite, a fazenda de meu irmão será vigiada vinte e quatro horas por dia, se perceberem qualquer coisa estranha, tomaremos as terras no chumbo.
_ Descubra quem é esse tal rapaz e venha me avisar.
_ Esse rapaz senhor, é o filho do Jonas.
_ Filho do Jonas ?
 _ Se ele pisar novamente em minhas terras, mato a família inteira. Pode mandar o recado.
_ Agora vamos cuidar desses negros imprestáveis.
_ Elias, chame o capataz e mande dar dez chicotadas em cada escravo; durante noventa dias terão uma refeição e mais nada.
_ Vamos triplicar o tamanho do curral, quero todos os animais presos durante a noite.
_ Coloque um escravo dormindo no celeiro e outro vigiando os animais, isso deverá ser dia e noite; quero que eles fiquem escondidos, vamos pegar esses gatunos.
_ A partir de hoje, quero todo mundo dormindo com olho aberto.
Atemorizados, empregados e escravos estavam em alerta, até que numa noite de lua cheia, um escravo viu uma pessoa escondida no mato; era Alberto que estava tentando chegar até o quarto de Maria José.
O alarme soou, confundido com ladrão, os escravos correram tentando pegá-lo, mas embrenhando-se pelo mato Alberto desapareceu sem ser identificado.
Na manhã seguinte Sr. Emílio encomendou cinco garruchas novas e ordenou que atirassem para matar.
As coisas estavam cada vez mais complicadas para Alberto e Maria José.
O tempo passava e nada de anormal acontecia, agora Alberto teria que escolher as noites mais escuras para se encontrar com a namorada.
Maria José queria que ele conversasse com Sr. Emílio, pedindo-a em namoro:
_ Você esta correndo risco de vida Alberto, não entendo porque não vem conversar com meu pai !
_ Espere mais um ano, quero falar com ele quando estiver pronto para casar.
Alberto já sabia que o pai da moça queria matá-lo, jamais iria aceitá-lo como genro, nem mesmo em sonho; seus pensamentos diziam que era preciso matar o coronel.
Fortemente cercada, a fazenda era vigiada por escravos que se revezavam sem descanso.
Quatro meses mais e os ladrões não apareciam, até que numa manhã, um escravo foi achado desmaiado e cinco cavalos desapareceram.
Avisado, o coronel Emílio chegou falando:
_ Como conseguiram pegar você por trás ?
_ Se estivesse acordado isso não teria acontecido.
_ Mai eu tava acordado dotô coroné.
_ Não tem mais nem menos seu imprestável.
_ Amarrem o maldito, servirá de lição para todos.
Amarrado no tronco, o negro Amadeu foi torturado e morto com dois tiros na cabeça.
Durante uma semana vistoriaram toda a região, homens foram contratados mas nada encontraram.
As notícias chegaram até Alberto que decidiu se afastar por algum tempo, a fazenda era um local muito perigoso.
Revoltados, negros e índios queriam pegar os ladrões.
Zeferina, a mãe do escravo morto, não se conformava e jurou vingança.
Escravos índios e negros, respeitavam muito essa preta velha, diziam que ela tinha pacto com diabo, suas feitiçarias eram violentas e nunca falhavam.









O  FIM  DE  EMÍLIO


Coincidência ou não, apesar de ter muita saúde, Sr. Emílio começou a sentir muita dor de cabeça.
Um mês depois já não saia de casa; preocupada, a esposa mandou que fossem buscar o médico; por outro lado, achando bom e preocupada com Alberto, Maria José mandou a escrava levar um recado para o namorado:
_ Benedita, quero que leve um recado para Alberto; e não conte nada à ninguém, se contar corto sua língua.
_ Diga que venha hoje à noite, o médico e mais duas pessoas virão visitar meu pai e dormirão aqui em casa.
Ela sabia que os empregados estariam desatentos com o movimento na fazenda, por isso mandou chamá-lo.
Escondida, Benedita saiu bem cedo, indo levar o recado.
Por volta das 22:00 hs, Alberto atravessou o mato chegando rapidamente até a janela do quarto da moça.
As lamparinas já estavam apagadas; no escuro, descuidado, Alberto derrubou o caixote que usava para subir na janela.
Escutando o barulho, Joana que dormia no quarto ao lado, acordou e correu para o quarto do pai.
_ Pai ! Pai ! Acho que o ladrão está mexendo na janela do quarto da Maria José.
Levantando-se rapidamente, Sr. Emílio pegou a garrucha e entrou no quarto da filha.
Na penumbra viu a silhueta de um homem; sem pensar levantou a arma e atirou.
O chumbo acertou o braço de Alberto, mas mesmo machucado conseguiu fugir.
Alberto chegou em casa gemendo, disse a todos que se feriu acidentalmente quando caçava.
Os chumbos infeccionaram seu braço direito, durante uma semana entrevou-se na cama com forte febre.
Embora tenha tirado os chumbos, nunca mais seu braço voltou a ser o que era.
Dois meses depois de vários recados e nenhuma resposta, Maria José mandou um bilhete para Alberto:
Espere-me na estrada, amanhã quando o dia raiar estarei lá.
Alberto se levantou bem cedo indo de encontro à namorada.
_ Como você está Alberto, vai perder o braço?
_ Tudo foi culpa da minha irmã, odeio aquela bruxa, se pudesse à mataria enforcada.
_ E seu pai Maria José, como está ?
_ Anda mal, agora não sai da cama, isso deve ser castigo.
Emílio estava muito mal, suas noites eram de delírio: chamava pelo pai, pela mãe, gritava enlouquecido, corria pelos corredores carregando cadeiras na cabeça, dizia que os escravos queriam matá-lo, falava com as colunas e paredes; conversava e brigava com os animais como se eles fossem gente.
Seis meses depois da primeira dor de cabeça, Sr. Emílio morreu num estado lamentável.
Em silêncio a preta velha Zeferina, mãe do escravo assassinado, comemorava sua tão esperada vitória:
_ Ele sofeu muto mai que meu fio, na cabeça ele atirô, da cabeça ele moreu, ah, ah.
Agora ninguém mais impedia que Alberto e Maria José se casassem.
Com a morte do Sr. Emílio, Alberto entrava e saia da fazenda como bem queria, mas dona Amélia não aceitava o casamento.
_ Você não pode se casar com ele, já esqueceu que o pai dele era inimigo de seu pai ?
_ Além do mais é nosso dever respeitar as vontades dos mortos; tenha calma que logo aparece um bom homem, então você se casa.
Alberto sabia que a situação era delicada, precisava conquistar a consideração de dona Amélia. Estava atento a tudo, até que um dia um fato lhe chamou a atenção:
Novamente a fazenda havia sido roubada, ele sabia que pegando os ladrões seria respeitado por todos; decidido iniciou as investigações.
Certo dia, tranquilamente sentado embaixo de uma figueira, Alberto tirava suas conclusões em voz alta:
_ Se usassem cavalos, teriam que ser muitos, então os rastros na estrada logo seriam encontrados.
_ Para roubarem dez sacos de feijão e dez de milho, teriam que levar em carro de boi; com a lentidão dos animais logo seriam pegos; então concluo que não poderiam  ter saído pela estrada.
Subindo o morro que ficava atrás da fazenda, Alberto avistou um rio que atravessava um grande vale; havia mata fechada em quase toda região. Poucas trilhas cortavam a mata.
Descendo o morro, andou pelas margens rio abaixo, seguindo uma trilha que terminava no rio.
Estava aproximadamente a cinco quilômetros do ponto de partida.
Olhando em todas as direções, avistou na margem oposta, uma grande jangada. A embarcação tinha tamanho suficiente para levar dez animais de uma só vez.
Agora ele precisava atravessar o rio, mas como era muito largo nada podia fazer.
Voltando à fazenda chamou Elias:
_ Você sabe de quem é a fazenda que fica do outro lado do rio ?
_ Antigamente era do Coronel Marcelino, mas depois de sua morte a fazenda foi vendida para um pessoal que comercializa açúcar.
_ Você já esteve lá ?
_ A última vez que fui por aquelas bandas, foi quando roubaram a fazenda pela primeira vez.
_ E o que viu por lá ?
_ Lá não tem nada, somente um grande barracão onde guardam os cereais que são vendidos.
No outro dia, bem cedo, Alberto voltou à fazenda do Sr. Emílio, selou um bom cavalo e foi investigar o tal galpão.
Depois de algumas horas de cavalgada, atravessou uma estreita ponte sobre o tal rio, mais outra boa cavalgada e ele chegava ao galpão.
Perto da porta do galpão encontrou um homem e o cumprimentou:
_ Bom dia. Gostaria de falar com o dono.
_ Então se apeie e vamo cunversa.
_ So eu memo; eu e meu irmão.
_ Pois bem, quero negociar cinquenta sacos de açúcar, dez de feijão, dez de milho e oito cabeça de gado branco.
Naquela região, o Sr. Emílio era o único que criava gado branco, gado nelore.
Sabiamente Alberto pediu o gado branco.
_ Oia meu sinhô, as mercadoria tenho pra já, mai u gadu chega daqui a arguns dia, mai o meno quatro dia.
_ Pois bem, daqui quatro dias volto para ver os animais.
Voltando à fazenda, contou o caso para dona Amélia e suas filhas; pediu que fizessem segredo até mesmo para Elias, pois desconfiava que mais alguém estava por trás dos roubos.
Voltando para casa explicou a situação para seu pai, e pediu que deixasse levar dois irmãos com ele. Seria por apenas quatro noites.
No dia seguinte Alberto chega com os irmãos na fazenda do coronel Emílio, disse para todos que eles vieram a mando de dona Amélia, iriam plantar cana.
À noite, os três armados ficaram de tocaia perto do curral, mas nada de anormal aconteceu.
Na terceira noite, por volta das 23:00 hs, avistaram um homem subindo o morro; era Elias.
Alberto fez sinal para ficarem quietos.
Não demorou muito para Elias descer na companhia de quatro homens. Entraram no curral, amarraram quinze vacas e iniciavam a subida puxando os animais, quando Alberto empunhando a arma pulou na frente deles falando:
_ Parado aí, se alguém tentar correr morre. Quero todo mundo deitado no chão.
Elias tentou fugir correndo morro abaixo, mas em seu caminho estavam um dos irmãos do Alberto.
Foi apenas um tiro certeiro: entrou pelo olho derrubando o homem. O administrador da fazenda estava morto.
Com o barulho feito pela arma, empregados e escravos correram apavorados em direção do curral.
Antes que o dia clareasse os ladrões estavam mortos.









O   DOMÍNIO


Agradecendo os irmãos, Alberto pediu que dona Amélia  oferecesse a eles algumas cabeças de gado.
Os rapazes voltaram satisfeitos e Alberto conseguiu o que queria.
A partir desse momento dona Amélia devia-lhe um grande favor; em agradecimento deu-lhe um presente:
_ Você provou que é um bom homem, valente e de confiança.
Agora estamos sem administrador e minha filha quer se casar com você. Se for do seu agrado, cuide das fazendas e de minha filha.
No mês seguinte a fazenda estava preparada para a festa.
O padre foi chamado e o casamento realizado.
Muita comida, carne à vontade, vinho, aguardente e uma grande mesa repleta de verduras e frutas.
A festa se estendeu por três dias, somente os escravos trabalharam.
Agora Alberto era o senhor todo poderoso, em suas mãos estava toda a riqueza do Sr. Emílio, mas ainda não estava satisfeito, queria mais.
Apossando-se das terras do outro lado do rio, onde estava o galpão, mandou construir uma ponte para ligá-las a fazenda.
Os negócios prosperavam mas Alberto nunca estava contente.
Um ano depois do casamento nascia seu filho.
Orgulhoso e vaidoso falou:
_ Menino, você já nasceu grande, seu nome será Bartolomeu; herdará todas essas terras, pois minha futura geração não será empregada de mais ninguém.
O pai e a mãe de Alberto ouviam em silêncio as palavras do filho:
_ Lembra-se mãe ?
_ Um dia eu disse que seria rico, pois minha promessa está cumprida, hoje sou rico e poderoso.
Alberto falava como se tudo fosse dele, não queria aceitar o fato de Joana, sua cunhada, ser herdeira e dona da metade de tudo.
Não tardou muito para uma casa ser construída ao lado da sede, pois Maria José ainda guardava rancor de sua irmã, dizia que não suportava olhá-la frente a frente.
Um ano após o nascimento da criança, Joana conheceu um bom rapaz; foi na mesma festa onde Alberto e sua irmã se conheceram.
Ele era de família humilde, como humilde era a família de Alberto.
Sempre foi um homem bom e trabalhador; não tardou muito para conquistar o coração de sua futura sogra, dona Amélia.
Alberto não conseguia vê-lo com bons olhos; sabia que iria dividir a herança com o futuro concunhado; o simples fato de pensar no assunto descontrolava-o de maneira assustadora.
Depois de um ano e meio de namoro, Everaldo e Joana queriam casar:
_ Dona Amélia, acho que posso me casar com sua filha, estou aqui para falar do assunto e também para pedir sua permissão.
_ Arrendei umas terras depois do rio, terras que estão ao lado das suas; estou plantando cana e criando cinco cabeças de gado.
_ Ora, se está achando que vai tirar minha filha daqui, está muito enganado, é claro que vocês não vão para lá, tenho muitas terras, poderá trazer seu gado e morar aqui na fazenda.
_ Se você acha que aquelas terras são boas, aguarde um pouco, garanto que poderá comprá-las em pouco tempo.
Tenho certeza que dará tudo certo; Alberto irá gostar de mais um braço forte na fazenda.
Everaldo nunca teve vida fácil, entrou na luta pela sobrevivência desde muito cedo; quando tinha dez anos seu pai morreu deixando quatro filhos para a esposa criar.
Trabalhava o dia inteiro na roça em troca de leite, feijão e farinha, dessa maneira ajudou sua mãe a criar todos os irmãos e ainda cuidava dela.
_ Você é um bom rapaz Everaldo, case-se com minha filha e traga sua mãe para morar na fazenda, ela poderá trabalhar aqui em casa.
Joana e Everaldo tinham um relacionamento invejável, eram almas gêmeas, sempre sorrindo, alegres, conversavam com todos, até mesmo com os escravos; isso fazia com que Maria José ficasse possessa, irada ela falava para o marido:
_ Precisamos fazer alguma coisa Alberto, não vou criar meu filho junto com o filho daquela bruxa. Acho melhor irmos embora para a fazenda da Cangalha.
_ Não isso é impossível, daqui não podemos sair. Esta fazenda está em local estratégico. Pretendo escoar a produção de todas as fazendas através desta, construirei balsas e todas as mercadorias virão para cá; esta fazenda será nosso grande armazém.
_ Por isso digo, acalme-se e tudo dará certo, o plano que irá resolver a situação já está em minha cabeça, apenas quero saber se irá concordar .
_ Então fale Alberto, estou curiosa e já digo: se for para tirar Joana daqui, seja lá o que for eu concordo.
_ Então ouça com muita atenção e entenderá o que penso.
_ Caso Everaldo morresse, de nada adiantaria, sua irmã encontraria outro homem e continuaria na fazenda; então devemos atacar o problema da raiz; teremos que eliminá-la.
_ Mas o que quer fazer, matá-la ?
_ Não seja tão trágica Maria José, não sou assassino !
Apenas vamos levá-la para um passeio somente de ida. Não é isso que você quer ? Não está cansada de ver sua cara lavada ?  Pois bem, não precisamos matá-la, apenas será levada para um lugar muito longe, de onde nunca mais possa voltar.
_ Mas todos sentirão sua falta e irão procurá-la, por mais longe que a levemos Everaldo irá atrás, passará o resto de sua vida tentando encontrá-la.
_ Acalme-se mulher, já está tudo planejado, não fique aflita, devemos fazer tudo com calma e naturalidade.
_ Alberto, eles estão com casamento marcado para o mês que vem, será realizado no dia de São João, precisa fazer alguma coisa logo.
_ Está bem mulher, na hora certa agiremos, confie em mim.
Até então Maria José não sabia o que iria acontecer; para evitar enganos ele preferiu não contar nada. Mas o momento chegou e ele a chamou para conversar sobre o assunto.
Explicou que precisavam esperar o dia em que Everaldo iria ao povoado comprar as bebidas.
_ Ouça bem Maria José, quero que passe a maior parte do tempo na casa de sua mãe. Descubra quando ele vai para a vila.
Maria José fez como seu marido mandou e logo retornou com a resposta:
_ Irá para a vila três dias antes do casamento; disse em segredo para minha mãe, que irá comprar um presente e dará à Joana no dia do casamento.
O momento era aquele; Alberto chamou todos e disse que faria uma viagem a negócios, iria procurar terras para comprar, mas um dia antes do casamento estaria de volta.
Mandou que pegassem uma boa carroça e nela colocassem mantimentos e água, no dia seguinte iria partir.
Logo pela manhã Alberto partiu colocando seu macabro plano em ação; andou o dia todo até chegar a seu destino.
Longe da estrada, no meio do mato, um pequeno casebre abrigava um senhor de idade avançada.
Aproximando-se do homem, Alberto falou:
_ O senhor pode pegar a carne seca que está na carroça; cuide bem do cavalo e dos meus pertences, logo voltarei.
Deixando a carroça e o cavalo aos cuidados do homem, tirou da capa quatro moedas de ouro e disse:
_ Isso é pelo seu serviço, quando voltar lhe dou mais dezesseis. Não conte pra ninguém que me viu; se contar..., será um homem morto.
Sem perder tempo, deixou a carroça, pegou outro cavalo, selou e voltou para a casa.








A   TRAMA


De madrugada, um pouco antes de chegar a fazenda, soltou o cavalo no pasto junto com os outros, escondeu a sela num buraco, e entrou sorrateiramente em sua casa.
_ Mulher, deu folga para os empregados ?
_ Sim.
_ Então a partir de agora ninguém entra nesta casa, ficarei escondido, ninguém pode me ver.
_ Antes de raiar o dia subirei o morro e ficarei escondido perto do pé de goiaba.
_ À tarde, um pouco antes de escurecer, vá até a casa de sua mãe e na presença dela, peça que sua irmã vá apanhar goiabas para o Bartolomeu.
Faltavam três dias para o casamento de Everaldo e Joana.
Antes de raiar o dia, Alberto pegou um pedaço de pano, um saco de estopa e uma tripa com sangue de galinha; silenciosamente subiu o morro, indo esconder-se no local combinado.
À tarde Maria José foi para casa da mãe, que estava na cozinha ajudando Benedita a fazer uma torta.
Cumprimentando-a olhou para a mesa e viu seis grandes goiabas; espertamente levou o menino para dormir no quarto, voltando para a cozinha sem demoras.
Ela sabia que precisava comer aquelas goiabas e não poderia demorar.
Conversando comeu todas as frutas e aguardou a hora exata; quase no escurecer pegou o menino, despediu-se da mãe, da irmã, deu alguns passos em direção da porta e voltou apreçada falando com Joana:
_ Joaninha, esqueci e comi todas as goiabas que estavam em cima da mesa; mas que cabeça dura eu tenho; me faça um grande favor querida irmã.
_ Esta noite Bartolomeuzinho quase não dormiu, toda hora acordava chorando pedindo goiaba, vai ficar doente se não comer.
_ Por favor, traga algumas para ele.
_ Mas minha filha, é muito tarde, daqui a pouco escurece, amanhã sua irmã vai buscar.
_ Entendo mãe, mas essa noite o menino acordava toda hora pedindo goiaba, se não comer hoje vai ficar doente.
_ Não tem problema maninha, irei buscar as goiabas e na volta vou até a porteira, quero esperar Everaldo chegar.
Quando Joana chegou perto da goiabeira, Alberto deu-lhe uma forte pancada na cabeça, desmaiando-a.
Rapidamente lhe arrancou várias mexas de cabelo, espalhando-as pelo chão junto com o sangue de galinha.
Fez tudo detalhadamente para dar impressão de que algum bicho tivesse arrastado a moça na direção do rio.
Depois de amarrar a boca, mãos e pés, arrastou-a para o lado contrario, morro abaixo em direção da estrada; escondido no mato, esperou a noite chegar.
Quando estava totalmente escuro, levou-a para o outro lado da estrada. Junto com a sela dentro do buraco, Joana permaneceu desacordada.
Quando Everaldo chegou, dona Amélia perguntou pela filha; ele disse que não sabia.
A fazenda toda subiu o morro, ascenderam tochas e acharam a pista de sangue e cabelos.
Concluindo que a moça fora  arrastada morro abaixo em direção ao rio, vasculharam toda a margem durante horas.
Nesse momento Alberto aproveitou para fugir; pegou o cavalo, selou e seguiu viagem durante a noite.
Quase no clarear o dia, chegou com a moça na casa do ancião.
Colocando-a dentro do saco no fundo da carroça, amarrou-a de maneira que não pudesse se levantar, cobriu-a com um cobertor, trocou de cavalo, e sem dormir prossegui viagem por mais doze horas.
Quando chegou a seu destino, retirou a moça da carroça e falou com um casal que apareceu na porta:
_ Fizeram a cela no porão ?
_ Sim senhor, fizemos.
_ Coloquem água, comida e nunca mais deixem que ela saia. Cumprirei meu trato, nunca mais precisarão trabalhar, mas se ela escapar ou alguém descobrir alguma coisa, vocês morrem.
Na volta dormiu na casa do ancião, deu-lhe as dezesseis moedas e no raiar do dia, voltou para casa.
Ao chegar na porteira foi recebido por um dos escravos:
Sinhô Arberto, o sinhô num sabe o que se sucedeu.
_ Um bicho cumeu a sinhazinha Juana.
_ Mas o que esta falando Jeremias ?
_ É verdade, ela subiu nu moru pra pegá goiaba e num vorto mai.
_ Percuremo em tudu, por tudu os cantu, mai num encontremo nem sinar dela.
Os dois, marido e mulher, fizeram boa encenação enganando a todos.
Muitos anos se passaram; com sua inteligência Alberto conseguiu triplicar a riqueza que agora era toda sua, pois dona Amélia já estava morta.
Everaldo perdeu o gosto pela vida; tornou-se um alcoólatra dois anos depois do desaparecimento de sua noiva; viveu o resto de sua vida caindo pelas estradas e pelo mato, chorando e lamentando a morte de sua noiva; morreu dez anos depois do sumiço.
Quinze anos mais tarde, Alberto ficou sabendo que Joana e o casal foram mortos por índios.
Bartolomeu morreu aos dezessete anos, com a mesma doença do avô.
Maria José não teve mais nenhum filho; aos vinte e oito anos ficou paralítica; com a morte da mãe, sua companhia eram empregadas e escravas, pois Alberto já não lhe dava atenção.
Quando sua saúde piorou, foi levada para uma casa de tratamento, onde abandonada morreu aos sessenta e seis anos.
Alberto viveu até os oitenta e oito anos; acompanhou o enterro de todos os parentes.
Desenganado pelos médicos, deitado no leito de morte, sofreu durante oito anos sem poder se levantar.
Morreu cego e só, sem herdeiros e sem parente que o ajudasse.
Sua fortuna ficou para os sobrinhos. 









CONCLUSÕES


_ E então Sr. Jorge, está satisfeito ?
_ Entendeu a história ?
_ Descobriu porque Nino tanto sofreu ?
Na sala conversando com Sr. Jorge, nem vi o tempo passar; estávamos reunidos em família para comemorar o Natal de 2003.
Ângelo estava sentado junto a mim e a seu lado estava uma bonita moça, aparentava ter dezoito anos.
Discutíamos comentando a história, quando delicadamente fomos interrompidos por ela:
_ Desculpem mas não consegui entender porque Nino se separou tão drasticamente da família e da noiva.
Percebendo o interesse que a moça tinha pelo assunto, falei:
_ Está bem, vou explicar-lhe com detalhes.
_ Embora sejam duas histórias, os personagens principais são poucos, vamos ver quem é quem em cada uma.
_ Alberto, Nino e Ângelo são as mesmas pessoas, o primeiro foi marido de Maria José, o segundo foi noivo da Andressa o terceiro está sentado a meu lado, é Ângelo.
_ Todos são uma só pessoa, representam, o porquê da história, o porquê de nossa pesquisa.
_ Maria José e Andressa são as mesmas pessoas, Maria José foi esposa do Alberto, Andressa foi a noiva de Nino.
_ Emílio e Julio são as mesmas pessoas, o primeiro é pai de Maria José e inimigo mortal de Alberto, o segundo é irmão gêmeo do Nino.
_ Deduzo que Emílio tenha voltado como irmão do Nino, para eliminar rancores e criar laços de amizade.
Everaldo e Nino Filho são as mesmas pessoas, Everaldo é noivo de Joana, Nino Filho é marido de Elisa e filho do Nino.
_ Joana e Elisa são as mesmas pessoas, a primeira é cunhada do Alberto, irmã da Maria José, a segunda é esposa do Nino Filho, filha de Andressa.
O casal que manteve Joana em cativeiro voltou para serem pais de Nino; nessa condição sofreram e sentiram na pele, o que é ter os filhos desaparecidos; a lição foi grande, pois a dor foi dobrada, perderam dois filhos de uma só vez.
_ Ângelo aprendeu através do sofrimento do Alberto, e mais ainda com o sofrimento do Nino, que a maior riqueza do ser humano é a união, a paz e a presença dos entes queridos. Nino foi separado da noiva e da família, da mesma maneira que separou Joana do noivo e da família.
Maria José através da paralisia e solidão, aprendeu que a liberdade e a união são riquezas que o dinheiro não compra.
Andressa foi separada pelo destino, da pessoa que mais amava, viu seu grande sonho destruído da mesma maneira que ajudou a destruir os sonhos da irmã.
_ Alberto e Maria José ficaram com a herança de Joana e Everaldo, entretanto Elisa e Nino Filho, herdaram os bens da Andressa e do Nino. Também receberam o mais importante: amor, solidariedade e consideração.
_ Bartolomeu nasceu e logo morreu, para fazer o pai e a mãe refletirem, perceberem que não somos donos de nada, não temos nenhum poder. Nasceu e morreu para mostrar aos pais que não podemos controlar e muito menos manipular as maiores riquezas da vida.
_ A vida e o tempo se encarregam de alterar a índole de cada um; alguns vêm para receber outros para dar, mas todos acabam aprendendo que não existe paz e felicidade sem auxilio, união e amor.
_ E agora Sr. Jorge, mais algum mistério para desvendarmos ?
_  Ah,ah.
_  Mistério não tem, apenas quero sua presença em uma viagem. Aceita o convite ?
_ Mas para onde vamos ?
_ Vamos para a ilha.
_ Acho que não ouvi bem.
_ Ouvi sim, não quer conhecê-la ?








O  REENCONTRO


_ Para mim seria muito gratificante, mas o que vai dizer ao chegar lá ?
_ Direi para o Nino Filho que trouxe seu pai para matar a saudade da ilha.
_ Mas como o senhor irá provar que Ângelo foi o Nino pai no passado ?
_ É simples. Falou Ângelo com sorriso nos olhos.
_ Somente nós sabemos onde está escondido o cofre.
_ E você dirá para o Nino onde está ?
_ Sim, com certeza pois o ouro agora pertence a eles.
Não foi preciso ser sábio para perceber que havia uma mudança radical nas características do Ângelo, outrora Alberto.
Agora tinha a grande chance de beneficiar a antiga Joana que hoje é Elisa, casada com o antigo Everaldo, que hoje é Nino Filho. 
Olhando dentro dos olhos do rapaz lhe disse:
_ Parabéns Ângelo, você mudou da água para o vinho, inspira-me admiração. Quero viajar com vocês.
Alguns dias depois, embarcamos rumo a ilha; saímos bem cedo; durante a viagem imaginamos o que seria naufragar naquelas violentas águas.
Quando a lancha se aproximou da ilha, avistamos as casas e os animais andando pelo terreiro, mas não havia ninguém.
Achamos estranho o fato das pessoas não terem ouvido o barulho da lancha, então gritamos:
_ O de casa..., tem alguém aí ?
Ninguém respondeu; resolvemos desembarcar.
Ângelo estava demasiadamente apreensivo, dizia que seu coração parecia querer sair pela boca.
Preocupado com o rapaz, perguntei-lhe:
_ Você está bem Ângelo ?
_  Não sei lhe responder, sinto-me estranho, a sensação é de que estou voltando ao passando, me lembro como se fosse um sonho na noite anterior.
_ Fique calmo, vamos descer e tudo estará bem.
Estávamos em cinco: Sr. Jorge, Ângelo, a moça que estava em minha casa, eu e o barqueiro.
Amarramos a lancha, desembarcamos e já no meio do terreiro gritamos novamente:
_ O de casa..., tem alguém ai ?
Como não responderam, seguimos em direção à casa que estava com a porta aberta.
Entrei na frente dos outros, fui olhando cômodo por cômodo, até que me deparei com uma senhora deitada na cama. Para acalmá-la falei.
_ Não se assuste senhora, entramos porque a porta estava aberta, pensamos que não havia ninguém em casa.
_ Não tem problema moço, ouvi quando chamavam mas não posso me levantar.
_ Podemos ajudá-la ?
_ Acho que não, tenho problemas de coração, hoje estou pior, por isso estou deitada; sentem-se logo meu marido Nino está de volta.
_ Ele foi buscar algumas ervas para me fazer um chá.
Logo Nino Filho estava de volta; percebemos em seu olhar um pouco de cisma, mas chegou falando:
_ Bom dia pessoal, em que posso ajudá-los ?
_ Desculpe nossa intromissão, viemos apenas para conversar.
_ Pois então falem.
Sabendo que dona Elisa estava com problema no coração, Sr. Jorge não quis ir direto ao assunto, preferiu dizer que queria comprar alguns porcos.
_ Mas o senhor vem de longe só para comprar porcos ?
_ Sim senhor Nino, ao passar perto da ilha vimos que possui bonitos porcos.
_ Pois bem então venham, vou mostrar os bichinhos.
Quando já estávamos distante da casa, Sr. Jorge parou de andar e perguntou sobre a saúde de dona Elisa.
_ O problema de minha mulher é serio Sr. Jorge, precisa operar o coração mas não temos dinheiro.
_ Senhor Nino, e se lhe disser que seu pai veio lhe trazer o dinheiro, o senhor acredita ?
_ Meu pai ?
_O senhor conheceu meu pai ?
_ Seu pai eu conheço.
_ Ah, mas então o senhor deve estar enganado, meu pai morreu ha muito tempo.
_ Então se prepare porque vou provar-lhe que este rapaz é o seu pai; ele voltou para ajudar vocês.
_ O que é isso senhor Jorge, não entendo sua brincadeira.
_ Pois bem, aqui na ilha existe um cofre cheio de ouro que foi do coronel Armando, seu bisavô; você está precisando do dinheiro para curar sua esposa, mas não sabe onde está porque seu pai Nino morreu e não lhe contou o local que foi enterrado, certo ?
Nino perdeu as palavras, sentou-se olhando com espanto para o Sr. Jorge; mudou, empalideceu rapidamente.
Parecia estar em estado de choque. Preocupado falei:
­_ Respire fundo senhor Nino o senhor está bem ?
Nino nada respondeu; olhando para trás observei que Ângelo estava tão pálido quanto Nino, agarrava-se a um arbusto com cara de quem ia desmaiar.
Seguramos o rapaz colocando-o sentado ao lado do Sr. Nino. Parece que a dose tinha sido forte para os dois.
_ O senhor quer dizer que este rapaz é meu pai ?
_ Sim.
_ Então eu já morri e não estou sabendo ?
_ Não senhor Nino, vamos contar-lhe a história.
Conversamos durante um bom tempo, mas sabíamos que dona Elisa precisava de socorro urgente, então seguimos em direção do cofre. Ao chegar no local, percebemos que tínhamos um problema: Nino havia feito o chiqueiro em cima do dinheiro.
Tiramos os porcos e começamos a cavoucar.
Quase noite, desanimados achando que havíamos errado o local, foi quando Ângelo bateu o enxadão no cofre.
Achamos o dinheiro e Nino ainda abobado, não queria acreditar; a moça estava coberta de barro até a cabeça;  estávamos felizes, havia moedas de ouro aos milhares; Elisa poderia se tratar mas não podíamos contar-lhe a história, pois seu coração poderia parar.
Ângelo e Nino se abraçaram como pai e filho, confesso que fiquei confuso ao ver tal sena se desenrolar com tanta naturalidade. Realmente demonstravam sentimentos de pai e filho.
No outro dia levantamos cedo, voltamos levando Nino e Elisa para o hospital; antes do meio dia já estávamos em terra firme.
Seguimos até a clínica para interná-la; Sr. Jorge assinou o cheque pois não podiam pagar com moedas de ouro.
Mais tranquilos, deixamos dona Elisa amparada e fomos para casa do Sr. Jorge; conversávamos falando sobre as obras do destino e as dúvidas do Sr. Jorge.
Nino contou que Armando, Aninha e os filhos, preferiram continuar morando no continente. Augusto seu filho, estava casado, morava vizinho da casa de Armando.
Comentei que tudo começou por causa do medo que Ângelo sentia, e das preocupações de seu pai.
_  Então Sr. Jorge, mais algumas dúvidas ?
  _ As dúvidas acabaram, agora acredito que tudo tem um porquê e nada acontece por acaso.
Levantando-se do sofá, a moça fez uma colocação:
_ É verdade, agora acredito que o acaso não existe.
_ Um dia, Alberto provocou a morte de Joana, hoje Ângelo ajuda a devolver a vida para Elisa, antiga Joana.
_ Alberto destruiu a vida do Everaldo e Joana, Ângelo devolveu a felicidade para Everaldo e Joana, ou Nino Filho e Elisa, como queriam chamar.
_ E você Ângelo, já tem namorada ?  Perguntou Nino Filho.
_ Não, namorada não tenho mais, agora tenho uma noiva.
_ Mas que bom, poderíamos realizar o casamento na ilha. Também se quiser poderão ficar morando lá; eu e Elisa estamos ficando velhos, Augusto não quer sair da cidade, então você terá a ilha de volta, o que acha ?
Sorrindo, a moça se manifestou:
_ Acho uma ótima ideia.
   Sem saber quem era a moça, dirigindo-se a ela, Nino perguntou:
_ Desculpe mas..., não sei o seu nome.
_ Meu nome ?
_ Me chamo Andressa, sou noiva do Ângelo.
_ Muito prazer, esse é o nome da minha falecida sogra e da ex-noiva do meu pai.
Olhando para o Sr. Jorge, falei:
_ Que coisa estranha..., será um acaso ?
Mirando meus olhos ele respondeu com uma pergunta:
_ Mas..., acasos existem ???
Dona Elisa foi operada saindo trinta e cinco dias após a internação. Estava nova em folha e ainda havia muito dinheiro no cofre.
_ Acho que contribuí com minha parte nessa história.
Olhando sua boa fisionomia, perguntei.
_ Como se sente dona Elisa ?
_ Estou ótima parece que nasci novamente, o retorno do Nino pai fez bem a todos nos, ah, ah.
  _ E sua mãe, dona Elisa, onde mora ?
_ Minha mãe e meu pai faleceram num acidente de carro, logo depois do nascimento do Augusto; nessa época Nino e eu resolvemos morar definitivamente na ilha.
Dois meses findaram, muitas lanchas se dirigiam à ilha, era o casamento de Ângelo e Andressa.
Casaram-se no dia 27 de fevereiro de 2004.
Ângelo e Andressa uniram-se a Nino Filho e Elisa.
A rivalidade enterrada no solo da vida, agora transformada em amor, germina através da semente da paz.



F  I  M



UM   PEDIDO  NO  NATAL
    


Minha alma aprisionada entristecida e desapontada me pede pra voltar a ser menino, desconhecer o que é errado, o mal falado.
Aos poucos vou me desapegando de tudo: ilusões, sonhos, vontades, amor, ódio, lembranças, falsas esperanças.
Quero fazer aliança contra a vingança, procuro mudança, quero ter espírito de criança.
Regresso de uma viagem que ainda não terminou, pois ainda existe vida em meu corpo.
Regresso ao meu longínquo passado, procurando encontrar nele paz e serenidade, forças para prosseguir no que ainda me falta caminhar.
Espero voltar a ter olhos somente para admirar as coisas singelas.
Ter ouvidos somente para o que não faz mal a alma.
Ter boca somente para sorrir e confortar.
Ter mente ingênua que desconheça a maldade, o egoísmo, a saudade, a mediocridade.
Ter coração transparente que desconheça a falsidade.
Ter na face expressão serena de que nunca rouba a cena.
Poder terminar a vida sem maldizer a Terra, esquecer a guerra onde tudo se encerra.
Quero poder voltar a ser menino, ter o direito de esquecer a hora, pisar descalço na terra, correr na chuva, deitar no chão, olhar uma caixa de fósforo imaginando que é um caminhão.
Quero não precisar mostrar a ninguém meus valores, minha capacidade, quero fugir da maldosa realidade.
Quero ser simples, verdadeiro, nunca mais me tornar adulto, não preciso ser culto, apenas ser bom.
Quero ter o direito de ser feliz sem causar mágoas, conflitos, invejas, tampouco ressentimentos, sofrimentos.
Quero ser aquilo que um dia o Pai Eterno desejou para mim.
_ Pai Todo Poderoso, talvez eu não consiga tudo isso pois estou na Terra, ocupo um corpo, sou humano, mas... é esse o presente que gostaria de ganhar no natal.
                  

      
Minha igreja é Deus, minha religião a Fé.

Benedito Oswaldo Vittoretti

Nenhum comentário: